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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

À Deus

Estava desolada. Precisava sentir a vida entrar nos seus pulmões novamente. Longe dali. Aquele sentimento já não cabia mais nas simples paredes do seu quarto. Tudo aquilo era demais para ela. Decidiu fugir. Fingir já não era mais preciso. Pegou suas coisas e saiu. Deixou as chaves sobre a mesa da sala com um bilhete. A porta ficou entreaberta, como se pudesse voltar a qualquer momento. Mas sem olhar para trás, caminhou. Seus passos largos a levavam por ruas desertas. Não via saída. Não via cores. E então resolveu parar. Não sabia o que fazer. Não queria voltar. E não sabia mais para aonde ir. Um pouco adiante avistou uma grande árvore e ali encontrou o seu destino. Sob a sombra que ela fazia, estendeu um lençol velho e deitou. No céu, diante dos seus tristes olhos, viu nuvens escuras se formarem rapidamente. Por um instante pensou em partir, mas ficou ali. Queria sentir o peso da chuva despejando todo o caldo sujo recolhido das tardes quentes daquele verão. O primeiro pingo caiu. E o segundo.. E o terceiro...
Mas naquele momento não existia mais chuva. Eram suas lágrimas que escorriam transbordando a tristeza e a solidão que apertavam o seu peito. Não era possível distinguir uma da outra. Tudo era uma coisa só. Os gritos de desespero, apareciam como trovões. As feridas abertas da sua alma, lavadas enquanto o mundo parecia desabar naquela tempestade sem fim. E os seus sonhos, levados junto com a enxurrada para um bueiro qualquer daquela cidade vazia. Sentiu-se só. Sentiu-se fraca. O alicerce havia desmoronado. Seus medos foram libertos e a necessidade de sentido, parecia cada vez mais distante. Tentava entender a razão do seu fracasso como pessoa. Mil coisas passavam na sua cabeça. Procurava por erros, algo que justificasse viver aquilo. Estava disposta a morrer ali pela causa e efeito. Como um pedido aceito, sentiu sua espinha gelar. Um raio acertou o lugar que escolhera. E num último suspiro, pediu uma vida que fosse diferente.
E as respostas de todo o seu sofrimento, ficaram escritas nas dezenas de cartas que nunca foram entregues ao destinatário. Ela apenas escrevia, mantendo o nome em segredo. Talvez não soubesse mesmo a quem mandar. Talvez esperasse pelo dia em que o encontraria. Talvez só escrevesse para desabafar. Talvez.. Mas antes de sair naquela manhã, espalhou pelo chão todas as páginas da sua história. Queria que as encontrassem. E o bilhete, era pra si mesma. Pois foi a forma que encontrou de imaginar que alguém sentiria sua falta, fugindo de lá, mesmo morando sozinha.

sábado, 4 de setembro de 2010

Pensando Nela

Neste instante em que escrevo, estou pensando nela,
longe de mim, no entanto em que estará pensando?
- quem sabe se a sonhar debruçada na janela
recorda o nosso amor, a sorrir, vez em quando...

Ou terá tal como eu, esse ar de alguém que vela
um sonho que estivesse em nosso olhar flutuando?
Ou quem sabe se dorme, e adormecida e bela
o luar lhe vai beijar os lábios, suave e brando...

Invejaria o luar!... É tarde, estou sozinho,
ela dorme talvez, e não sabe que ao lado
do seu leito, a minha alma ronda de mansinho...

Nem vê meu pensamento entrar pela janela
e ir na ponta dos pés, murmurar ajoelhado
este verso de amor que fiz, pensando nela!

                                                                      (José G. de Araújo Jorge)

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